terça-feira, 4 de outubro de 2011

No fundo dos bolsos (auto-retrato)

Sabem que há, nada menos do que… um, dois, três, … nove bolsos num casaco vulgar?
Nem vale a pena dizer quantas coisas se lá podem esconder! Basta pesá-lo para nos apercebermos disso. E então se fôssemos a pôr tudo à vista…! Mas, será que realmente o fazemos?
Nos meus bolsos, além do passaporte e do Bilhete de Identidade, que me narram, como se eu fosse uma história, que me lembram o meu nome (não vá eu esquecê-lo), encontro também algumas chaves. A chave de casa da casa, a do carro, que é outra casa para mim, que é também, por vezes, a nossa casa. Ou então este bilhete de cinema, que me faz lembrar como me ri e como também é preciso, de vez em quando, tentar livrar-me um pouco dos aborrecimentos. Quando, com a ponta dos dedos, o apalpo, enrolo e rasgo bem devagarinho, é para me recordar que ri a valer. Outras vezes, encontro também o canivete. Uso-o normalmente, mas com frequência ele serve para me recordar que há uma laminazinha que provoca feridas na minha vida. Agente não se ri todos os dias. Há contrariedades, desgostos que não podemos evitar e que nos deixam, nas mãos ou no coração, cicatrizes… pequenos nadas. Não é o cartão de crédito, nem o livro de cheques, que me podem fazer esquecer que, na vida, nem tudo se pode comprar.
No fundo de um bolso secreto, uma fotografia, uma fotografia bem velha da mamã, do pai ao lado dela, uma mais recente, colorida, com a minha mulher e os nossos filhos. Isto vale por todos os papéis devidamente carimbados pelos serviços municipais, para me não deixar esquecer que o que sou, tanto o meu nome, como os meus amores.
Quando me acontece, e isto acontece-me realmente, pôr as mãos nos bolsos e encontrar aí todos os meus segredos, é como se me refugiasse num auto-retrato.

Paul Bleechx

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;D