segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Espetros de Coragem

Sabem uma coisa que eu gosto mesmo em ter um blog? Poder ler e reler bons textos pela blogosfera e ser presenteada com textos escritos pelos amigos! A partir de hoje também o André Branquinho faz parte do 'Lugar Comum' :)  Bela surpresa. Vale a pena ler o poema que se segue. Deixo algumas pistas: violência doméstica, a fuga, a perseguição, o regresso, as consequências, a coragem (ou a falta dela). Ele passou-me a batata quente para as mãos, pediu-me que escolhesse o nome para o poema. Espero que não se importe.


A porta fechou-se,
O coração também,
Dentro havia nada
E nada queria com ninguém.

Deixava a chama eterna,
Que tanto calor lhe deu
Mas fugia da inútil dor
Que ninguém lhe prometeu

Arrastava pela rua,
Escura e Gelada,
A agonia que carregava
Que não a deixava mais amar

A cada passo, sabia:
Voltar era morrer,
Cair nas garras do animal,
Que por ira a punha a sofrer

Sob o olhar da Lua,
Atreveu-se a lacrimejar,
Não da dor que deixara,
Mas da solidão que encontrara.

O Mundo caiu-lhe a seus pés,
Não podia continuar,
Desfez-se,
Voltou-se a culpar.

Mas no escuro da noite,
Alguém observava,
Aproximaram-se com carinho,
Do canto onde chorava

Onde as lágrimas caíam,
Passos eram ouvidos,
Risos desenhados,
O disfarce retirado

E, tal como fugira do lobo,
Fugia agora da matilha,
Corria, indefesa, em tristeza,
Daquela perversa alegria.

As ruas percorreu de novo,
Por entre o gelo e frio,
Até voltar ao seu lugar,
Quente e macio.

E tudo permanecia igual,
Naquele lar pacato e sólido,
A porta abriu-se,
Voltou para ficar
Pois no fundo sabia
Que nunca mais veria as estrelas
Nem o Luar.


André Branquinho

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;D