De cada vez que o pincel tocava a tela, via surgir-lhe o corpo. Eram as mesmas linhas que recordava em contornos que conhecia. Não deixava ver-lhe o rosto, nunca poderia fazer jus àquele olhar caloroso.
Usava sempre tons de cinzento nas figuras que recriava. Não eram marcas de luto, apenas sentia que na sua vida sem ele, a realidade não poderia ser distorcida por colorações que o tempo se encarregaria de apagar.
Umas vezes retratava-o jovem, outras, um homem maduro que não chegou a conhecer. Enquanto o pintava, acreditava na sua presença ali. Não importava que não fosse real. Naquele curto intervalo de tempo, ele voltava para ela, agarrando-se à vida, para depois se esbater em sombras na cruel passividade dos contornos pretos que enchiam a tela branca.
A sensação de absurdo sugava-lhe a felicidade e ela redesenhava as saudades.
dói tanto sentir saudade !
ResponderEliminarAdorei. Dói mesmo:(
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