Saiu de casa no conforto de que em 10 minutos estaria de volta. Se não estivesse tão certa disso, talvez tivesse voltado. Afinal, para que nos serviriam as certezas se não fossem tão acertadamente incertas?
A vizinha tinha-lhe telefonado para a avisar de que um rapaz ali deixara um pequeno embrulho para ela. Contrariada, dirigiu-se em chinelos até ao outro lado da rua. Foi apenas quando tinha a caixa azul nas suas mãos que assumiu algum interesse por aquilo. Eram bombons. Não teriam sido enviados por alguém que a conhecesse bem. Eram bombons de que ela não gostava. Contudo, traziam um bilhete escrito à mão, numa letra sua velha conhecida.
Não o via ao que parecia terem sido anos e a recordação abalou-a como se um choque elétrico lhe percorresse o corpo. Eram uma história mal acabada. Uma história por acabar, dizia o bilhete. Aquelas palavras bailavam à sua volta, contornando o seu coração repleto de saudade. Mirou os chocolates; tinha sido com uma caixa igual que a relação deles começara, e era por isso que depois de acabar os odiava. Provou-os e não regressou a casa. Naquele momento quis tê-lo de volta.