No momento em que as lágrimas me
percorrem o rosto sei que nunca poderia procurar outro culpado que não eu
mesma. Cheguei até aqui, tantas vezes sem revelar o que me ia no pensamento,
que esqueci a fórmula do desabafo. A verdade prende-se a mim como um recluso
que, preso há demasiado tempo, teme o mundo lá fora. Teme-o porque vê o mundo avançar
sobre acontecimentos que se converteram em hábitos. Hábitos a que já não
pertenço mais.
Eles riem. Brincam. Bebem. E o
tempo passa. O que podia ser já não acontece, porque não se sabe o caminho de
volta. Perdeu-se o ponto de partida. A esperança, essa ficou, mas de que me
vale ela agora, se a sinto envenenada? Ela está aqui, mas é como se risse de
mim e me desafiasse.
As pessoas mudam, e quando nos
afastamos por demasiado tempo podemos criar uma visão difusa do que está ao
nosso redor. Aí, podemos precisar, mas já não sabemos se somos precisos. A dúvida
consome-nos e a energia que perdemos deixamos de a ter para enfrentar os nossos
receios.
Cada dia é um desafio, devo,
então, secar as lágrimas e vivê-lo.