sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Tal como há uns tempos me distanciei do blog, distanciei-me de algumas pessoas. Sei que algumas delas estranharam, mas também sei que perdi importância para outras. O afastamento, apesar de não ter sido forçado e ter sido gradual, foi fundamental para poder ver mais claro: há sempre motivos que nos influenciam, que tentam mudar os nossos planos para os ajustar a outras conveniências. Precisava de pensar no que realmente queria fazer e sabia que contando-lhes iria ser obrigada a entrar num jogo de interesses, o qual não estava preparada para ganhar.
No entanto, sabia que tinha de fazer tudo para conseguir. Mesmo jogando sozinha, era meu dever fazer tudo para manter os meus objetivos de pé. Posso nunca chegar a ganhar, mas espero que sejam capazes de entender que lutei e que fui eu mesma. Enquanto o tempo avança procuro uma armadura que me possa proteger, não quero desistir. Não agora.
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
# Cadernos de Santiago: do início ao fim (post demasiado longo)
“Se não sais de ti, não chegas a saber quem és”
Faz agora um ano, tentava reunir informação sobre Santiago de Compostela. A verdade é que não estava de todo entusiasmada com a ideia de ir estudar para esta cidade que não fazia parte do meu plano inicial, apesar de ser a melhor solução que tinha na altura.
Naquele tempo nada estava no seu devido lugar. Faltava uma justificação válida. Pensava nas razões que me tinham levado ali e nenhuma fazia qualquer sentido para mim. No fundo acreditava que, com paciência, tudo podia ser temporário e iria haver uma solução que me levasse para mais perto de casa.
A verdade é que não houve. Assim, no dia 8 de setembro mudei-me para a Galiza. No início dividia-me entre ideias controversas: cidade bonita, muitos colegas novos, a distância, a falta de laços familiares; com o passar do tempo, ia conhecendo mais pessoas e sentia um grupo de portugueses unido e animado. Vinha a casa tão poucas vezes que sentia que tinha uma nova família em Santiago.
Os primeiros meses passaram e posso dizer que foram intensos; conheci a amiga com que mais me identifiquei até hoje, mas também vivi demasiado perto de uma pessoa que me mostrou que o orgulho e a arrogância se podem cruzar no dia-a-dia sem se tocarem, mas tarde ou cedo chocam e podem quebrar amizades tornando as memórias meros cacos.
Aprendi muito em Santiago, aprendi nas aulas fatigantes, aprendi com peregrinos a chegar a todo o momento, aprendi sobre mim. Cheguei a pensar que não estava preparada para a faculdade, que me faltava maturidade. Mas, ela chega aos poucos e dependia de mim fazer da minha escassa maturidade a armadura para enfrentar os medos.
Passou o Natal e o Ano Novo. Passou o 1º semestre e com ele a primeira fase de exames. Dura. Exaustiva para quem tinha saído de um ensino secundário “tranquilo”. Quase um mês passado a estudar entre piadas e psicoses com as duas melhores amizades que fiz em Santiago. Em Espanha temos exames no fim do semestre, não há frequências, o tempo entre cada um é muito pouco e podemos ter apenas um dia entre dois exames, se falharmos nesta fase, temos o recurso em junho, nada mais a não ser deixar para o próximo ano. Penso na fase de exames como o ponto de viragem: foi tão stressante que pensava que me fazia mais falta o apoio das pessoas que me tinham visto crescer do que propriamente o tempo para estudar.
Depois dos exames começou logo o 2º semestre, decidi faltar à primeira semana de aulas para poder finalmente passar algum tempo em casa sem a pressão de estudar. Foi refrescante, pude conversar sem pressas com os vizinhos, estar com os meus amigos. Falar com eles foi o bastante para perceber que já não sabia nada deles há meses. As conversas vagas, o facebook deixam-nos pensar que estamos dentro quando não podíamos estar mais longe da realidade que cada um vive.
Foi em conversa coma minha avó que disse as palavras que sempre soube, mas sobre as quais não tinha pensado ainda, ou talvez já as tivesse esquecido. “Sim, ainda vou tentar estudar em Salamanca. Talvez daqui por uns anos.”
Não podia enganar-me a mim mesma. Mais tarde iria olhar para trás e perceber o quanto tinha perdido. Queria estar presente na vida dos meus velhos amigos. Queria saber quando as coisas iam menos bem cá em casa. Queria que matar as saudades não fosse difícil. Queria estabilizar.
Viver em Santiago era uma superação pessoal a cada dia. Muitos obstáculos se erguiam, tive ajuda para ultrapassar muitos deles, mas também houve motivos que me deitaram abaixo muitas vezes. Pela altura do Carnaval, mudei de casa.
Passei a viver sozinha. Ficaria mais tranquila, a partir de aí deixaria de ter surpresas desagradáveis, algumas intimidadoras. Não é bom quando pressão atrai pressão. De aí em diante, pude reparar que não tinha sido só eu a alterar o rumo das coisas. Cada um estava mais concentrado num objetivo que por ser comum nos estava a afastar uns dos outros. O grupo de portugueses estudantes de medicina em Santiago de Compostela “unido e animado” estava a dividir-se em pequenos grupos. O stress faz destas coisas, não são irreversíveis, mas também não são fáceis de lidar.
Percebi que as pessoas em quem podia confiar eram as mesmas desde o início, essas estiveram sempre lá para mim. No entanto também percebi que eram menos do que as que teria pensado. Algumas delas foram desilusões. Outras pequenos desapontamentos.
Sempre temos de nos agarrar ao que é importante, ao verdadeiro. Por vezes esqueci-me disso. Fiquei sozinha em casa a pensar demais. Deitava-me tarde. Não sabia o que fazer. Já idealizava um futuro noutro lugar. Pesei os prós e os contras, pensei e repensei, investiguei e pedi opiniões. Ao fim de algum tempo, comecei a tratar de uma nova candidatura à universidade de Salamanca.
Achei que estava a trair os meus amigos, mas deixei de me importar com opiniões, sempre fazemos juízos sobre tudo. Os mais importantes conheciam as minhas razões o suficiente por isso contei apenas a esses. Continuei a ir às aulas, fiz os primeiros exames, mas já não estava focada na faculdade e não correram bem.
Fiz os exames da selectividad, que são os exames para a candidatura e segui com o processo.
Já estou matriculada na USAL (Universidad de Salamanca) há pouco mais de um mês. Continuo a pensar em tudo o que poderia ter sido diferente. Fiz muitos erros e reconheço-os, mas aprendi com eles.
E apesar de tudo, posso-me gabar de uma coisa: em Santiago rodeei-me de pessoas fantásticas, as pessoas certas. Os meus sonhos mudaram graças a elas, puderam evoluir porque elas me ajudaram a criar asas. Graças a elas sei o que quero, e se não conseguir agora, devo-lhes o facto de não desistir.
Faz agora um ano, tentava reunir informação sobre Santiago de Compostela. A verdade é que não estava de todo entusiasmada com a ideia de ir estudar para esta cidade que não fazia parte do meu plano inicial, apesar de ser a melhor solução que tinha na altura.
Naquele tempo nada estava no seu devido lugar. Faltava uma justificação válida. Pensava nas razões que me tinham levado ali e nenhuma fazia qualquer sentido para mim. No fundo acreditava que, com paciência, tudo podia ser temporário e iria haver uma solução que me levasse para mais perto de casa.
A verdade é que não houve. Assim, no dia 8 de setembro mudei-me para a Galiza. No início dividia-me entre ideias controversas: cidade bonita, muitos colegas novos, a distância, a falta de laços familiares; com o passar do tempo, ia conhecendo mais pessoas e sentia um grupo de portugueses unido e animado. Vinha a casa tão poucas vezes que sentia que tinha uma nova família em Santiago.
Os primeiros meses passaram e posso dizer que foram intensos; conheci a amiga com que mais me identifiquei até hoje, mas também vivi demasiado perto de uma pessoa que me mostrou que o orgulho e a arrogância se podem cruzar no dia-a-dia sem se tocarem, mas tarde ou cedo chocam e podem quebrar amizades tornando as memórias meros cacos.
Aprendi muito em Santiago, aprendi nas aulas fatigantes, aprendi com peregrinos a chegar a todo o momento, aprendi sobre mim. Cheguei a pensar que não estava preparada para a faculdade, que me faltava maturidade. Mas, ela chega aos poucos e dependia de mim fazer da minha escassa maturidade a armadura para enfrentar os medos.
Passou o Natal e o Ano Novo. Passou o 1º semestre e com ele a primeira fase de exames. Dura. Exaustiva para quem tinha saído de um ensino secundário “tranquilo”. Quase um mês passado a estudar entre piadas e psicoses com as duas melhores amizades que fiz em Santiago. Em Espanha temos exames no fim do semestre, não há frequências, o tempo entre cada um é muito pouco e podemos ter apenas um dia entre dois exames, se falharmos nesta fase, temos o recurso em junho, nada mais a não ser deixar para o próximo ano. Penso na fase de exames como o ponto de viragem: foi tão stressante que pensava que me fazia mais falta o apoio das pessoas que me tinham visto crescer do que propriamente o tempo para estudar.
Depois dos exames começou logo o 2º semestre, decidi faltar à primeira semana de aulas para poder finalmente passar algum tempo em casa sem a pressão de estudar. Foi refrescante, pude conversar sem pressas com os vizinhos, estar com os meus amigos. Falar com eles foi o bastante para perceber que já não sabia nada deles há meses. As conversas vagas, o facebook deixam-nos pensar que estamos dentro quando não podíamos estar mais longe da realidade que cada um vive.
Foi em conversa coma minha avó que disse as palavras que sempre soube, mas sobre as quais não tinha pensado ainda, ou talvez já as tivesse esquecido. “Sim, ainda vou tentar estudar em Salamanca. Talvez daqui por uns anos.”
Não podia enganar-me a mim mesma. Mais tarde iria olhar para trás e perceber o quanto tinha perdido. Queria estar presente na vida dos meus velhos amigos. Queria saber quando as coisas iam menos bem cá em casa. Queria que matar as saudades não fosse difícil. Queria estabilizar.
Viver em Santiago era uma superação pessoal a cada dia. Muitos obstáculos se erguiam, tive ajuda para ultrapassar muitos deles, mas também houve motivos que me deitaram abaixo muitas vezes. Pela altura do Carnaval, mudei de casa.
Passei a viver sozinha. Ficaria mais tranquila, a partir de aí deixaria de ter surpresas desagradáveis, algumas intimidadoras. Não é bom quando pressão atrai pressão. De aí em diante, pude reparar que não tinha sido só eu a alterar o rumo das coisas. Cada um estava mais concentrado num objetivo que por ser comum nos estava a afastar uns dos outros. O grupo de portugueses estudantes de medicina em Santiago de Compostela “unido e animado” estava a dividir-se em pequenos grupos. O stress faz destas coisas, não são irreversíveis, mas também não são fáceis de lidar.
Percebi que as pessoas em quem podia confiar eram as mesmas desde o início, essas estiveram sempre lá para mim. No entanto também percebi que eram menos do que as que teria pensado. Algumas delas foram desilusões. Outras pequenos desapontamentos.
Sempre temos de nos agarrar ao que é importante, ao verdadeiro. Por vezes esqueci-me disso. Fiquei sozinha em casa a pensar demais. Deitava-me tarde. Não sabia o que fazer. Já idealizava um futuro noutro lugar. Pesei os prós e os contras, pensei e repensei, investiguei e pedi opiniões. Ao fim de algum tempo, comecei a tratar de uma nova candidatura à universidade de Salamanca.
Achei que estava a trair os meus amigos, mas deixei de me importar com opiniões, sempre fazemos juízos sobre tudo. Os mais importantes conheciam as minhas razões o suficiente por isso contei apenas a esses. Continuei a ir às aulas, fiz os primeiros exames, mas já não estava focada na faculdade e não correram bem.
Fiz os exames da selectividad, que são os exames para a candidatura e segui com o processo.
Já estou matriculada na USAL (Universidad de Salamanca) há pouco mais de um mês. Continuo a pensar em tudo o que poderia ter sido diferente. Fiz muitos erros e reconheço-os, mas aprendi com eles.
E apesar de tudo, posso-me gabar de uma coisa: em Santiago rodeei-me de pessoas fantásticas, as pessoas certas. Os meus sonhos mudaram graças a elas, puderam evoluir porque elas me ajudaram a criar asas. Graças a elas sei o que quero, e se não conseguir agora, devo-lhes o facto de não desistir.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Sabes quando tentas manter-te
ocupado, mas a tua cabeça não deixa e leva-te precisamente para onde queres
estar? Leva-te para onde as emoções fluem com naturalidade, para um sítio onde o
tempo não tem importância e tudo pode dar certo, mesmo até os impossíveis. A tua
cabeça faz-te viajar até um sítio perfeito – a mentira. Sei o quão quero
acreditar nela, mas também sei que as mentiras podem magoar. Com o tempo o
corpo acostuma-se, o ferimento sara, mas sempre deixa a sua cicatriz, por muito
que a queiramos ignorar.
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